Em uma recente entrevista ao podcast da Aliança Bike, Marcio Gobe, Gerente Nacional de Vendas da Corsa Bike Parts, relata sua experiência com o mercado brasileiro da bicicleta
Consumidores, importadores e lojistas. Seja qual for o caso, o mercado nacional da bike é formado, em sua grande maioria, por pessoas que tem a bicicleta correndo nas veias. Mas, como você já conferiu aqui no blog do Bike Conecta, o planejamento e a boa gestão são os grandes segredos para abrir e manter uma loja de bicicletas de sucesso.
Por conta disso, contar com a experiência de quem conhece o mercado a fundo é sempre uma ótima oportunidade de aprimorar o seu negócio, e este é o caso de Márcio Gobe, Gerente Nacional de Vendas da Corsa Bike Parts, um dos maiores importadores e distribuidores de componentes de bicicleta do país, que recentemente participou de uma entrevista no blog da Aliança Bike.
Sazonalizada e logística em um país continental
Dentre os pontos destacados por Gobe, a sazonalidade do mercado e até mesmo as dificuldades logísticas de um país do tamanho do Brasil foram um destaque. Segundo ele, essa sazonalidade decorre de fatores climáticos, mas também de acordo com o momento político do país:
“O mercado da bike é bem sazonal. Depende muito do momento político… Em época de eleição, nossos clientes [lojistas] sentem no varejo, e é uma cadeia que chega até a gente. […] Além disso, o inverno afeta drasticamente regiões como o Sul, onde é impraticável pedalar”, afirmou.
Além disso, segundo ele, distribuir produtos no país de forma competitiva nem sempre é simples, seja pelo tamanho do país, ou simplesmente por questões de infraestrutura de transporte:
“Atender o Norte e Nordeste, por exemplo, é um grande desafio pela barreira geográfica. Nosso galpão fica em Santa Catarina, e enviar produtos para o Acre, Roraima ou João Pessoa pode levar mais tempo do que importar dos EUA. Às vezes, o produto chega mais rápido vindo dos Estados Unidos do que daqui para lá”, explicou Márcio.
“Então, é um grande desafio, mas buscamos, com esse processo logístico, ser o mais eficientes possível. Temos uma equipe dedicada exclusivamente à logística, focada em garantir agilidade, utilizando transportadoras mais rápidas e com custos mais acessíveis”, complementou.
Vendas de bicicletas vs. vendas de componentes
Outro ponto abordado por Márcio durante a entrevista é a diferença entre comercializar bicicletas inteiras e seus componentes. Segundo ele, a comercialização de peças, muitas vezes, pode ser mais desafiadora.
“No geral, sobre componentes, acredito que a bike tem uma grande sazonalidade, mas é uma venda mais recorrente, porque muita gente está começando a pedalar, muita gente troca de bicicleta, muita gente troca de quadro, e isso é algo frequente”, afirmou Márcio.
“Já o componente é um pouco mais desafiador. Por quê? Porque a pessoa quer, mas não é algo 100% essencial. O importante é ter uma bicicleta. Se não for a bicicleta dos meus sonhos, eu continuo andando com a que tenho até conseguir a bicicleta ideal. Por isso, o componente é um pouco mais desafiador”, complementou.
Prevendo a demanda
Com os longos tempos de importação e as variáveis constantes do mercado mundial, algo que se intensificou nos últimos anos, fazer o trabalho de prever o futuro é algo fundamental para uma importadora, e certamente também para uma loja de bicicletas.
“Se você não souber o que vai estar em tendência, se não tiver uma estimativa de mercado, o dólar sobe, o dólar desce, o Trump ataca uma bomba no Irã, briga com a China, sobe imposto… É um quebra-cabeça diário”, explicou Márcio, complementando que cada região do Brasil vai reagir de maneira diferente aos acontecimentos.
“Não adianta enviar o mesmo produto para o Sul (frio) e Nordeste (clima estável). Nossos representantes regionais ajustam o portfólio conforme a realidade local. Isso afasta rupturas ou excesso de estoque”, afirmou.
Conforme explicou Márcio, ser ágil e assertivo nas decisões é fundamental para obter sucesso:
“Eu, sinceramente, sempre fui defensor de um time enxuto porque a gente consegue resolver tudo em minutos. Você liga para a pessoa que precisa, vai na sala de reunião, bate o martelo em 5 minutos. Não precisa copiar 20, 30 pessoas no e-mail. […] A gente consegue manter a operação enxuta e ter efetividade. Você trabalha mais? Óbvio. É multitarefa. Mas sabe o que acontece em tudo: garantia, serviço, comercial, marketing”, revelou.
Trabalhe com o desejo
Um dos pontos mais destacados da entrevista é o conselho dado por Márcio ao falar sobre o desejo do consumidor. Afinal, a bike é um dos poucos esportes que permite que você pedale com o mesmo equipamentos do campeão mundial, e muitas vezes até nos mesmos locais.
“A Fox faz isso a nível global, com várias marcas. É essencial, porque o consumidor, quando ele vai assistir uma prova, a bicicleta que ele vai olhar, filmar, vai ter o pôster na casa dele, é a bicicleta do Nino Schurter, é a bicicleta do Pidcock, é a bicicleta do Pogačar”, explicou Márcio.
“E no mercado da bike, essa é uma das coisas mais interessantes. Porque o cara pode ir na loja e comprar exatamente a mesma bicicleta que o Nino Schurter tem. É caro, tem que ter bala, mas se tiver, o cara pode ter exatamente a mesma bicicleta que o atleta pro que ganhou a Copa do Mundo 35 vezes tem. Isso é muito… Eu acho difícil você ter isso em algum outro esporte. Você ter a possibilidade de ter o mesmo componente que o atleta profissional. Você pode ter a mesma suspensão que o atleta de elite tem.”, finalizou.
Para encerrar, a entrevista com Márcio Gobe destaca os principais desafios e oportunidades do mercado brasileiro de bicicletas, evidenciando a importância do planejamento estratégico, da logística eficiente e da adaptação às realidades regionais.
Com foco na experiência do consumidor e na oferta de produtos de alta performance, o setor segue em crescimento, impulsionado pela paixão pelo esporte e pela busca por inovação.